A reparação em Fukushima

Em março de 2011, um terremoto de 9 pontos na Escala Richter assolou o Japão. Mais de 15 mil pessoas morreram em decorrência das catástrofes em série. Ondas gigantes de um tsunami destruíram cidades na costa japonesa e causaram o acidente nuclear na usina Fukushima Daiichi, o maior e mais conhecido desde Chernobyl. A Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (TEPCO) declarou que 45 toneladas de água radioativa foram liberadas no oceano. Com isso, milhares de pessoas que viviam num raio de 20 quilômetros do reator foram forçadas a deixar suas casas. À época, foram contabilizados 470 mil desabrigados.

Pouco mais de um ano depois, em maio de 2012, quase 165 mil moradores da região ainda estavam em estado de evacuação. Os planos de reparação foram divididos em diferentes áreas: saúde, restauração de cidades, casas e fábricas e revitalização de Fukushima. “Cabe a cada indivíduo decidir se deve voltar para casa ou não. O levantamento das ordens de evacuação não significa que os residentes sejam forçados a voltar”, orienta o governo nacional japonês. O governo da província de Fukushima explica à dois pontos como vêm sendo feitas a compensação e a reparação habitacional das pessoas atingidas. Confira:

dois pontos: O número de pessoas deslocadas após o acidente em Fukushima é muito alto. Como começar a pensar no reassentamento em face a um cenário tão difícil e com tantos moradores em situação de rua?

Governo da Província de Fukushima: O governo da província decidiu construir a Moradia Pública de Revitalização para garantir a estabilidade residencial aos que viviam em áreas para as quais foram emitidas ordens de evacuação após o desastre nuclear porque, mesmo com a Lei sobre Medidas Especiais para a Reconstrução e Revitalização de Fukushima, essas pessoas foram forçadas a continuar sua vida como evacuadas.

dois pontos: Qual é o número total de pessoas deslocadas?

GF: No seu auge, em maio de 2012, 164.865 pessoas estavam em estado de evacuação. De acordo com as últimas estatísticas, de junho de 2018, 44.878 pessoas (11.243 delas dentro da área da cidade, 33.622 em outras regiões e 13 desaparecidas) estavam vivendo como deslocadas.

dois pontos: Não há legislações específicas para o reassentamento pós-acidente no mundo. Vocês basearam seus parâmetros nas diretrizes do Banco Mundial? Se não, como criaram suas diretrizes?

GF: A prefeitura está construindo alojamentos públicos como parte da revitalização, de acordo com a Lei de Medidas Especiais para o Renascimento de Fukushima, em vigor desde 31 de março de 2012.

dois pontos: Um relatório do jornal Kahoku Shinpo diz que, em dezembro de 2015, 77% do programa de reconstrução foi finalizado pelas províncias de Fukushima, Miyagi e Iwate. Você pode falar um pouco sobre este programa?

GF: O governo local formou o 1º Plano de Desenvolvimento da Habitação Pública de Revitalização de Fukushima em junho de 2013 e o 2º Plano de Desenvolvimento de Habitação Pública de Revitalização de Fukushima em dezembro (do mesmo ano). A construção da Habitação Pública de Revitalização está ocorrendo com base nesses planos. O roteiro está sendo anunciado de acordo com o progresso do desenvolvimento.

dois pontos: E quais são os objetivos?

GF: Garantir a estabilidade residencial para pessoas que viviam em áreas nas quais as ordens de evacuação foram emitidas após o desastre nuclear.

dois pontos: Como está hoje? Até que ponto o plano foi concluído?

GF: Das 4.890 unidades que foram inicialmente planejadas, 4.707 foram concluídas até o fim de maio de 2018. A construção das unidades restantes está suspensa e será finalizada de acordo com a demanda futura.

dois pontos: Em 2014, o primeiro grupo de residentes retirados de Fukushima foi autorizado a retornar às suas casas. Que trabalho foi feito nessas residências para que as pessoas pudessem voltar?

GF: Os governos japonês e local implementaram o trabalho de descontaminação para reduzir os níveis de radiação e tomaram medidas para o desenvolvimento de infraestrutura básica, incluindo o desenvolvimento de infraestrutura habitacional, comercial, médica, de transporte e baseada na comunidade.

dois pontos: Ao contrário do terremoto de Kobe em 1995, quando a transferência dos desabrigados levou 5 anos, o tsunami em Fukushima causou uma séria erosão do solo, reduzindo a disponibilidade de áreas habitáveis. Além dessas dificuldades, quais outras destacariam?

GF: O impacto do desastre nuclear.

dois pontos: Um grande problema é que, embora sejam autorizadas a retornar à área da fábrica, muitas pessoas não confiam no local como seguro. Que trabalho está sendo feito para restaurar essa confiança?

GF: O governo japonês formulou um roteiro de médio e longo prazos rumo ao descomissionamento e está implementando-o de forma constante, tentando arduamente transmitir informações relacionadas à segurança. Ainda formulou uma estratégia para aumentar a comunicação sobre riscos e abordar o impacto de rumores prejudiciais. O governo local também criou estratégias para abordar danos à reputação causados por rumores prejudiciais e está trabalhando para lidar com o desvanecimento da consciência sobre os desastres. Esses são alguns exemplos das muitas medidas colocadas em prática pelos governos do Japão e da província.

dois pontos: Lemos em notícias publicadas no Brasil que o governo japonês prometeu desmantelar a usina, descontaminar a região e trazer a população de volta. Por que esse método foi escolhido?

GF: Nas diretrizes governamentais, (reunidas no documento) “Em direção à aceleração da revitalização de Fukushima a partir do desastre nuclear”, o governo japonês, que tem tomado iniciativas na política de energia nuclear, está determinado a preparar medidas de apoio suficientes e realizar a reconstrução de Fukushima. Tudo pensado em conjunto com as comunidades locais para ajudar os residentes e o governo da província a tomarem decisões diversas em relação ao seu futuro. Além disso, no briefing sobre as ordens de evacuação para residentes, o governo explicou: “Cabe a cada indivíduo decidir se deve voltar para casa ou não. O levantamento das ordens de evacuação não significa que os residentes sejam forçados a voltar para casa”. Em outras palavras, mostrou sua política de fornecer uma opção para que os moradores que estão na esperança de voltar para casa possam fazê-lo e anunciou que apoiaria também outras alternativas.

dois pontos: Foi anunciado que a habitação fixa será entregue em 2021, 10 anos após o acidente. Como você avalia este período, é muito tempo ou é rápido considerando a grandeza?

GF: A construção para a revitalização de moradias públicas deveria ser concluída em 2018, com exceção das 123 unidades que estavam suspensas. Em 2014, foi anunciado que a finalização aconteceria em 2016. Então, a conclusão da construção está atrás do nosso cronograma inicial.

dois pontos: Atualmente, 59.000 pessoas estão alojadas em estruturas pré-fabricadas. Quais são as dificuldades deste período de reassentamento temporário, antes de as habitações fixas estarem prontas?

GF: As unidades habitacionais temporárias foram construídas com base na Lei de Alívio de Desastres para uso por até dois anos e três meses. Nós não pretendíamos usá-las por um longo período de tempo. Mas elas já são usadas há mais de sete anos. Assim, temos dificuldade em mantê-las e repará-las.

dois pontos: É dito que os esforços para reconstruir Miyagi, Iwate e Fukushima estão desacelerando enquanto competem contra os extensos projetos de construção relacionados à realização das Olimpíadas de Tóquio em 2020. O que você diria sobre essa declaração?

GF: Não vemos que o atraso esteja relacionado aos Jogos Olímpicos de Tóquio.

dois pontos: Qual o investimento total para o reassentamento desse acidente?

GF: O montante total necessário para o projeto de desenvolvimento da revitalização da habitação pública é de aproximadamente 183,8 bilhões de ienes (cerca de 6,5 bilhões de reais/2018).

Um custo incorrido pelo governo da província de 2012 a 2018 para a construção e a manutenção de 4.487 unidades, incluindo as habitações dentro da província e aquelas feitas pelo governo local em outros municípios.